O que é síndrome de Lynch
A síndrome de Lynch é uma doença autossômica dominante (ou seja, cujos genes são passadas de pai ou mãe para filho ou filha) associada à predisposição hereditária para o desenvolvimento de diversos tipos de câncer, principalmente o colorretal, o de endométrio e outros tipos de câncer digestivos e associados ao aparelho urinário. É uma das síndromes hereditárias para predisposição ao câncer mais comuns na espécie humana.
A doença é responsável por 2% a 3% dos casos de câncer colorretal no mundo e por 5% das ocorrências dessa neoplasia no Brasil, onde cerca de 34 mil novos casos são diagnosticados por ano.
As causas da síndrome de Lynch são mutações em genes que controlam um tipo de reparo específico quando o DNA é danificado. Pessoas portadoras da doença têm risco de 55% a 85% de desenvolver câncer colorretal até os 70 anos de idade, enquanto na população geral (indivíduos que não têm a síndrome) esse risco é de 4,5%.
Em geral, os pacientes com síndrome de Lynch que desenvolvem câncer colorretal recebem o diagnóstico por volta dos 40 anos, e é mais provável que a lesão precursora seja um único adenoma (pólipo) de colón – diferentemente dos múltiplos adenomas apresentados em pacientes com polipose adenomatosa familiar, a outra principal forma hereditária desse tipo de câncer.
Mulheres com síndrome de Lynch têm risco de 40% a 60% de desenvolver câncer de endométrio.
Outros tipos de câncer associados à síndrome de Lynch são de pele de baixo grau, de ovário, de estômago, do trato urinário, de pâncreas, de intestino delgado e de cérebro.
Sintomas e sinais de síndrome de Lynch
Os sintomas de síndrome de Lynch são semelhantes aos de outras formas de câncer colorretal. São eles:
- Sangue nas fezes;
- Alteração do funcionamento do trato intestinal (diarreia e prisão de ventre alternados);
- Dor ou desconforto abdominal;
- Fraqueza e anemia;
- Perda de peso sem causa aparente;
- Alteração na forma das fezes (fezes muito finas e compridas);
- Massa abdominal (tumoração).
Diagnóstico de síndrome de Lynch
O diagnóstico específico de síndrome de Lynch é confirmado por meio de exame genético, mas é complexo determinar quem deve ser testado. Isso porque, diferentemente da polipose adenomatosa familiar, a síndrome não tem nenhuma aparência fenotípica.
Logo, a suspeita de síndrome de Lynch precisa ter base em um histórico familiar detalhado. Três elementos devem ser contemplados nessa análise:
- Haver três ou mais parentes com câncer colorretal ou câncer associado à síndrome de Lynch;
- Câncer colorretal em pelo menos duas gerações da família; e
- Pelo menos um caso de câncer colorretal antes dos 50 anos de idade na família.
É importante ressaltar que menos de um terço dos pacientes com a síndrome preenchem todos esses critérios. Portanto, a observação do local de origem do tumor (cólon ascendente e transverso), idade do diagnóstico e presença de algum outro tumor associado à síndrome, como os mencionados acima, são suficientes para indicar algum tipo de rastreamento ou o teste direto de DNA dos genes da síndrome.
Os testes de rastreamento mais utilizados, porque são mais simples, baratos e fornecem informações valiosíssimas no planejamento do tratamento, são:
- Imuno-histoquímica do tumor (para as proteínas da síndrome de Lynch MLH1, MSH2, MSH6, PMS2); e
- Estudo molecular da instabilidade de microssatélites (exame que permite observar se o tipo de defeito típico da síndrome de Lynch afeta as regiões que contêm múltiplas repetições de bases de DNA – chamadas de microssatélites).
Caso o paciente apresente anormalidade em algum desses exames, isso ainda não significa que ele tenha síndrome de Lynch, mas é fortemente sugestivo. Nesse caso, parte-se para o estudo de mutações nos genes da síndrome através de testes de DNA. Caso seja encontrada uma alteração genética, os familiares imediatos são indicados para rastreamento com exames periódicos para a detecção em fase inicial de quaisquer doenças associadas.
Portadores da síndrome devem realizar colonoscopia de vigilância a cada 1 ou 2 anos e triagem contínua para os tipos de câncer associados à doença.
Alguns exemplos de exames que podem ser solicitados:
- Colonoscopia;
- Exames periódicos de imagem (tomografia ou ressonância) do abdômen;
- Endoscopia digestiva;
- Exame qualitativo de urina.
Tratamento
A ressecção da lesão é o tratamento mais comum da síndrome de Lynch. Como a maioria dos tumores desse tipo ocorre antes da flexura esplênica, a alternativa mais recomendada é a colectomia subtotal (deixando intacto o rectosigmoide).
Em alguns casos, o médico oncologista pode recomendar a quimioterapia como parte do tratamento.
Esses pacientes costumam ter um prognóstico melhor que os casos de câncer de cólon da população geral, e respondem de maneira muito intensa a tratamentos com imunoterapia.
Prevenção
O uso de AAS (ácido acetilsalicílico) em dose baixa reduz o número de casos de câncer colorretal na síndrome de Lynch. O rastreamento da doença e os exames periódicos realizados após a confirmação do diagnóstico são muito eficientes na detecção precoce de doenças e tumores decorrentes dela, elevando muito a chance de sucesso e cura no tratamento.