A leucemia é um tipo de doença maligna das células do sangue. Sua principal característica é o acúmulo de células jovens anormais, denominadas blastos, que ocupam o espaço das células sanguíneas normais na medula óssea (espaço dentro do osso conhecido como tutano ou fábrica do sangue) ou em outras partes do corpo, tais como gânglios linfáticos, baço, fígado, sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal), testículos e olhos.
Em crianças e adolescentes, as leucemias representam o tipo mais comum de câncer, sendo as formas agudas as mais prevalentes. A incidência estimada das leucemias é de 3 a 4 casos para cada 100 mil crianças com menos de 15 anos de idade, e seu pico de prevalência é na faixa etária entre 2 e 5 anos de idade.
Subtipos de leucemia em crianças
Os principais subtipos de leucemia aguda são:
- Leucemia Linfocítica Aguda (LLA): atinge os linfócitos e, dentre todas as leucemias, é a mais comum na infância. Se tratada adequadamente após o diagnóstico, apresenta uma sobrevida superior a 80%, ou seja, tem uma alta probabilidade de cura;
- Leucemia Mieloide Aguda (LMA): subtipo mais raro na infância. As células envolvidas na formação da LMA são as formadoras dos glóbulos brancos, excluindo os linfócitos, glóbulos vermelhos e plaquetas;
- Leucemias de linhagem mista (indiferenciadas): podem apresentar ao mesmo tempo células de linhagem linfoide e mieloide.
- Leucemias crônicas: raras em crianças. A principal característica é a superprodução celular com a característica de alcançar o estágio maduro das células. A Leucemia Mieloide Crônica (LMC) é diagnosticada em aproximadamente de 3% a 4% das crianças;
- Leucemia Mielomonocítica Juvenil (JMML): tipo raro de leucemia na infância. Faz parte do grupo das doenças proliferativas e displásicas da medula óssea e tem como característica a presença de um número aumentado de monócitos.
Sintomas e sinais da leucemia em crianças
Os principais sintomas da leucemia em crianças são:
- Dor nas pernas;
- Dor nas articulações;
- Sensação de cansaço extremo (fadiga);
- Febre;
- Palidez;
- Manchas roxas (equimoses) e/ou pintinhas vermelhas (petéquias) na pele;
- Hemorragias;
- Aumento dos gânglios linfáticos ou ínguas;
- Dor abdominal (causada por aumento do fígado ou do baço);
- Cefaleia;
- Vômitos;
- Aumento de volume dos testículos;
- Nódulos subcutâneos;
- Alteração na função dos rins (diminuição do volume urinário, por exemplo);
- Falta de apetite contínua; e
- Perda de peso sem motivo aparente.
Vários sintomas da leucemia podem ser comuns a outras doenças. Por isso, é importante estar atento ao conjunto deles e procurar ajuda médica o mais rápido possível quando eles se manifestarem.
Diagnóstico da leucemia em crianças
O início do diagnóstico da leucemia em crianças é feito por meio da análise da história clínica do paciente e de exame físico. Durante a consulta médica, são pesquisados linfonodos (ínguas ou gânglios), áreas de sangramento, hematomas e aumento do baço ou fígado
Em seguida são solicitados exames. O primeiro exame de sangue pedido é o hemograma completo, que mostra se há alterações sanguíneas sugestivas, como presença de blastos, plaquetas baixas e/ou anemias. Alguns detalhes dele:
- Mielograma: identifica a presença de células blásticas em número aumentado na medula óssea. Também é realizado durante o tratamento, para avaliar a resposta do organismo;
- Citometria de fluxo e imuno-histoquímica: realizada com a amostra de medula óssea ou outros líquidos corporais, possibilita tanto a classificação da leucemia quanto o acompanhamento da resposta ao tratamento;
- Cariótipo ou citogenética (avaliação dos cromossomos): na amostra de medula óssea é realizada a análise cromossômica com o objetivo de identificar alterações genéticas que determinam risco de recaída da doença, além de determinar tratamentos específicos de acordo com mutações genéticas encontradas; e
- Biologia molecular: mais sensível do que o cariótipo, avalia as mutações genéticas que ocorrem nos cromossomos.
Se o resultado do mielograma não for conclusivo ou a aspiração da medula óssea não oferecer uma amostra suficiente para o exame, pode ser necessária a biópsia do osso, em que um fragmento ósseo é retirado com agulha própria.
Também pode ser necessário o exame do líquor. Para o procedimento, uma pequena agulha é introduzida no espaço entre os ossos da coluna na altura da bacia e é feita uma punção lombar para aspirar o líquido cefalorraquidiano (líquor), que circula ao redor do cérebro e da medula espinhal. O objetivo deste exame é identificar a presença de células leucêmicas no sistema nervoso central.
A punção lombar também é realizada para administrar medicamentos quimioterápicos no espaço da medula espinhal com o objetivo de prevenir ou tratar a leucemia caso ela esteja presente no sistema nervoso central.
Exames de imagem também são solicitados para o diagnóstico da leucemia em crianças. As radiografias, ultrassonografias, tomografias e ressonâncias magnéticas, entre outros exames, são realizadas para avaliar a extensão da doença e se há espalhamento para outros órgãos e partes do corpo.
Tratamento
O tratamento das leucemias segue um protocolo específico, de acordo com o tipo da doença. É realizado por meio de quimioterapia, imunoterapia associada ou não à radioterapia e ao transplante de medula óssea. A duração do tratamento varia de caso para caso.
Entenda como cada procedimento pode ser útil no tratamento da leucemia em crianças:
- Quimioterapia: sua ação tem o objetivo de destruir as células doentes. Seus possíveis efeitos adversos são náusea, vômitos, queda do cabelo, mucosites (lesões em variados graus na mucosa do trato gastrointestinal e diarreia. É administrada por via venosa, oral, intramuscular ou subcutânea;
- Radioterapia: pode ser utilizada como tratamento principal da leucemia (por exemplo: quando está localizada no testículo), como tratamento para diminuir a massa do tumor antes do tratamento definitivo ou como tratamento preventivo para evitar a recaída da doença. A radioterapia está indicada no protocolo realizado antes do transplante de medula, chamado de condicionamento. Os efeitos colaterais mais comuns que podem ocorrer na região irradiada são queda de cabelo, náusea, vômito, diarreia e fadiga;
- Imunoterapia: tratamento biológico mais recente, com versões ainda em estudo e com indicações específicas. Utiliza medicamentos que potencializam o sistema imunológico do próprio paciente, fazendo com que este reconheça o tumor como um agente agressor e o destrua; e
- Transplante de células-tronco hematopoiéticas. a célula-tronco é a responsável pela formação das células do sangue e fica dentro da medula óssea; também é chamada de tutano do ósseo. Em situações específicas, o transplante de célula-tronco será indicado e será necessária a pesquisa do doador compatível. Ao ser encontrado, seja na família ou no banco de medula óssea, o paciente receberá quimioterapia, associada ou não à radioterapia, antes de receber a medula óssea que será infundida como uma transfusão em uma veia calibrosa.
É importante que todas as opções de tratamento sejam sempre discutidas com o médico, bem como sua eficácia e seus possíveis efeitos colaterais, para ajudar a tomar a decisão que melhor se adapte às necessidades de cada paciente.
Prevenção
Não há como prevenir ou realizar exames de sangue ou outros testes de triagem para a maioria das crianças como forma de rastrear a leucemia antes que ela comece a causar sintomas que levem a uma consulta médica. A melhor maneira de detecção precoce é prestar atenção aos possíveis sinais da doença e procurar ajuda imediatamente ao percebê-los.
Existem algumas condições genéticas, como a síndrome de Li-Fraumeni ou a síndrome de Down, que predispõem à doença. Tal predisposição também pode ocorrer em crianças que já tenham sido tratadas com quimioterapia e/ou radioterapia para outros tipos de câncer e em crianças que fizeram transplantes de órgãos e estão em uso de medicamentos supressores do sistema imunológico. O risco de leucemia nestas crianças, embora maior do que na população em geral, ainda é pequeno.