O câncer do colo do útero – ou câncer cervical – é a multiplicação desordenada de células do epitélio de revestimento do órgão. Ele compromete o tecido subjacente (o estroma) e pode invadir células e órgãos próximos ou distantes (este fenômeno dá origem às metástases).
É causado por uma infecção persistente por alguns tipos oncogênicos do Papilomavírus Humano (HPV). A infecção genital por HPV é muito frequente e, na maioria das vezes, é assintomática e autolimitada, com grande parte das mulheres resolvendo esta infecção até os 30 anos de idade. Em alguns casos, porém, pode haver a persistência do vírus nas células do colo do útero, e isso promove as alterações celulares que podem progredir para o desenvolvimento de câncer.
No mundo, o câncer de colo de útero é o quarto tipo de câncer mais comum em mulheres, com cerca de 570 mil novos casos por ano.
No Brasil, o câncer do colo do útero ocupa a terceira posição entre os tumores malignos mais incidentes na população feminina (atrás do câncer de mama e do colorretal, excetuando-se o câncer de pele não melanoma). A estimativa para 2020, de acordo com o INCA (Instituto Brasileiro de Câncer), foi de 16.710 novos casos da doença.
Tipos do câncer do colo do útero
Há dois tipos principais de carcinomas do colo do útero. Classificados de acordo com a origem do epitélio comprometido, eles são:
- Carcinoma epidermoide – acomete o epitélio escamoso e é o tipo mais incidente (cerca de 80% a 90% dos casos); e
- Adenocarcinoma – acomete o epitélio glandular e é mais raro (cerca de 10% a 20% dos casos).
Sintomas e sinais do câncer do colo do útero
O câncer do colo do útero é uma doença de desenvolvimento lento e inicialmente silenciosa. Isso significa que pode não apresentar sintomas em suas fases iniciais.
Ao evoluir, apresenta quadros de sangramento vaginal intermitente (que vai e volta) ou após a relação sexual, secreção vaginal anormal e dor abdominal associada a queixas urinárias. Em casos mais avançados, pode surgir alteração do hábito intestinal.
Diagnóstico do câncer do colo do útero
O principal método de rastreamento para o câncer do colo do útero é o exame citopatológico, mais conhecido como teste de Papanicolau. O diagnóstico é confirmado por meio dos seguintes testes:
- Exame pélvico por avaliação com espéculo – exame da vagina, colo do útero, útero, ovário e reto;
- Colposcopia – exame em que se visualiza a vagina e o colo do útero com o colposcópio, aparelho capaz de detectar lesões anormais nessas regiões; e
- Biópsia – retira-se uma pequena amostra de tecido para análise ao microscópio.
Tratamento
Cirurgia, quimioterapia e radioterapia estão entre os tratamentos possíveis para o câncer do colo do útero. A decisão pelo tipo de tratamento dependerá do estadiamento da doença (o estágio em que se encontra), do tamanho do tumor e de fatores pessoais como a idade da paciente e o desejo de se manter fértil.
Em estágios iniciais podem ser realizados tratamentos cirúrgicos conservadores, tais como conização (retirada de uma parte do colo do útero) ou traquelectomia radical (retirada de todo o colo do útero). Isso vale também para lesões invasivas pequenas, pois evita complicações e morbidades causadas por cirurgias mais radicais.
Para estágios mais avançados e lesões volumosas, as evidências científicas indicam o tratamento quimioterápico associado à radioterapia.
Prevenção
Evitar o contágio pelo HPV é a prevenção primária do câncer do colo do útero. Como a transmissão ocorre através do contato, o uso de preservativos (camisinha masculina ou feminina) durante a relação sexual protege apenas parcialmente contra a doença. Não é possível afirmar que a proteção seja total porque o contágio também pode ocorrer pelo contato com a pele da vulva, a região perineal, perianal e a bolsa escrotal.
A vacinação contra o HPV é outra forma de se prevenir contra o câncer do colo do útero. Desde 2014, a vacina é oferecida nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) de todo o Brasil para meninas de 9 a 14 anos de idade e meninos de 11 a 14 anos.
A cobertura vacinal contra o HPV tem sido decepcionantemente baixa em todo o mundo, e apenas 1,4% de todas as mulheres elegíveis receberam um curso completo da vacinação contra o HPV. Além disso, há iniquidade no acesso às vacinas contra o HPV: em regiões de alta renda, 33,6% das mulheres entre 10 e 20 anos receberam o curso completo da vacina contra o HPV, em comparação com apenas 2,7% nas regiões de menor renda. Percebe-se, portanto, que a população de países que carregam a maior parte da carga de doenças relacionadas ao HPV em todo o mundo tem menos acesso às vacinas
Combinada à vacinação, a realização do exame de rotina ginecológica, através do Papanicolau, anualmente durante dois anos consecutivos e então uma vez a cada três anos, dos 25 aos 64 anos de idade, é um meio importante de se tratar as lesões pré-cancerosas ou agir rapidamente contra o câncer do colo do útero.
Mesmo as mulheres vacinadas devem fazer o Papanicolau periodicamente, pois a vacina não protege contra todos os tipos oncogênicos de HPV. A proteção vacinal cobre os Papilomavírus Humanos dos tipos 6 e 11 (que causam verrugas genitais), 16 e 18 (responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero).
O plano estratégico da OMS (Organização Mundial de Saúde) para a eliminação desta doença propõe uma meta de incidência de câncer do colo do útero de quatro ou menos casos por 100.000 mulheres/ano. Para atingir a incidência alvo, a OMS propõe metas de 90% das meninas vacinadas contra HPV aos 15 anos de idade, 70% das mulheres rastreadas duas vezes na vida (aos 35 e 45 anos) e 90% de adesão às recomendações de tratamento para as lesões pré-câncer e invasivas.