A fadiga acomete até 70% dos pacientes de câncer e pode ser decorrente tanto da doença quanto dos tratamentos (cirurgia, quimioterapia, radioterapia e toda a dinâmica que os envolve e mexe com a rotina das pessoas). Por causa disso, durante muito tempo acreditou-se que o melhor a fazer fosse permanecer em repouso o máximo possível e diminuir a prática de exercícios físicos ao longo do tratamento contra a doença.
Depois de estudos e pesquisas que sistematicamente provaram o contrário, hoje a recomendação é que os pacientes, em sua ampla maioria, mantenham o corpo em movimento enquanto combatem o câncer – algumas exceções serão observadas adiante. Vale destacar, ainda, que repouso em excesso pode levar à perda de funções corporais, à fraqueza muscular e à redução da mobilidade.
A prática de atividades físicas não apenas é segura como pode melhorar a qualidade de vida da pessoa em tratamento, trazendo como benefícios físicos:
- Alívio dos efeitos adversos da quimioterapia (como náuseas);
- Aumento da disposição;
- Redução do cansaço (aquele mesmo que atinge até 70% dos pacientes);
- Melhora das funções vitais do organismo;
- Fortalecimento da imunidade;
- Melhora do equilíbrio (diminuindo o risco de quedas e fraturas ósseas);
- Diminuição do risco de osteoporose; e
- Melhora da circulação sanguínea.
Os efeitos dos exercícios físicos também se refletem na manutenção de um peso corporal adequado, uma das principais formas de prevenir e combater o câncer. O excesso de gordura corporal provoca processo inflamatório e aumenta a produção de hormônios, o que pode causar danos às células, provocando ou acelerando o surgimento da doença.
Sobrepeso, obesidade e ganho de peso na fase adulta são associados a cânceres no esôfago, estômago, pâncreas, vesícula biliar, fígado, intestino (cólon e reto), rins, mama, ovário, endométrio (corpo do útero), meningioma, tireoide, mieloma múltiplo e, possivelmente, próstata (avançado), mama (em homens) e linfoma difuso de grandes células B.
Psicologicamente, os exercícios físicos durante o tratamento contra o câncer ajudam a:
- Controlar a ansiedade, normal em pacientes oncológicos;
- Amenizar sintomas depressivos surgidos com o diagnóstico da doença;
- Aumentar a autonomia do paciente em suas atividades cotidianas;
- Melhorar a autoestima; e
- Melhorar o humor e o relacionamento social.
Exercícios físicos recomendados durante o tratamento de câncer
São muitos os benefícios dos exercícios físicos durante o tratamento contra o câncer, mas é importante realizar um programa baseado no que é seguro, eficaz e confortável para o paciente.
Devem ser levados em consideração o passado de atividades físicas e os novos limites do corpo do indivíduo – eles podem ter mudado devido ao tipo de câncer, ao seu estadiamento e ao tratamento definido para combater a doença.
Não é o momento de se exercitar para perder peso ou ganhar massa muscular; o objetivo é manter a capacidade física e amenizar efeitos adversos do tratamento. Os exercícios físicos mais recomendados para o paciente oncológico apto são:
- Atividades aeróbicas leves (caminhada e pedaladas leves);
- Alongamento;
- Pilates leve; e
- Dança.
Em geral, recomenda-se a realização de pelo menos 30 minutos de atividades físicas por dia, mas há evidências de que os benefícios ocorrem mesmo quando a disponibilidade de tempo é menor. A duração diária é um elemento, mas não o principal.
Precauções para a prática durante o tratamento de câncer
Exames solicitados pelos médicos responsáveis pelo tratamento oncológico (e suas devidas análises) e alguns cuidados fazem parte das precauções para a prática de exercícios físicos durante o tratamento de câncer. As principais são:
- Realizar exames de sangue e verificar se todos os resultados estão dentro do esperado para que os exercícios físicos não prejudiquem o quadro geral de saúde;
- Não fazer atividades físicas em dias em que sentir dor, mal-estar ou outro sintoma incapacitante;
- Reduzir a duração do exercício físico caso bata um cansaço durante sua realização;
- Evitar superfícies irregulares que possam prejudicar o equilíbrio e facilitar quedas;
- Trocar a esteira pela bicicleta ergométrica caso sinta dormência nos pés;
- Procurar o médico imediatamente caso perceba sangramento, inchaço, dor, tontura ou visão turva durante ou depois dos exercícios físicos;
- Evitar piscinas com cloro após sessões de radioterapia; e
- Evitar esportes aquáticos e outros com riscos de infecção caso esteja usando cateter.
Condições que contraindicam a prática durante o tratamento de câncer
Apesar dos benefícios já apresentados, nem todos os pacientes oncológicos podem realizar exercícios físicos. Algumas condições que contraindicam as atividades são:
- Anemia acentuada (diminui a resistência, pois a hemoglobina que falta no sangue é a responsável por levar oxigênio aos pulmões);
- Nível de plaquetas baixo (elas são responsáveis pela coagulação e pela cicatrização); e
- Dores ósseas causadas pelos tumores e suas metástases.
Em alguns casos, o médico responsável pelo tratamento poderá avaliar os benefícios gerados por atividades de baixa carga, como hidroterapia, e indicar alguma movimentação para o corpo. Lembre-se: para não causar danos à saúde e ao tratamento, toda e qualquer modalidade adotada precisa ter sido aprovada pelo médico especialista.
7 dicas práticas para realizar exercícios físicos no dia a dia durante o tratamento de câncer
O cansaço e os efeitos adversos do tratamento contra o câncer podem dificultar a criação de uma rotina diária de exercícios físicos. Para auxiliar nesse processo até que o hábito esteja criado, seguem algumas dicas práticas:
1) Escolha atividades físicas que tragam prazer ao dia a dia – o exercício nunca deve ser sinônimo de sofrimento;
2) Troque o carro pela caminhada em trajetos curtos;
3) Suba escadas – respeitando seu ritmo – em vez de usar o elevador;
4) Leve amigos para se exercitarem com você;
5) Faça caminhadas e ciclismo ao ar livre (em praças e parques ou ambientes de uso comum de condomínios, por exemplo);
6) Dependa o mínimo possível de academias (reserve o uso das instalações para dias de chuva ou frio intenso);
7) Limite o tempo de telas (TV, celular, tablet, computador, videogame) de seus dias – elas são viciantes e podem desestimular o pontapé inicial para o exercício do dia.
Que médicos devem orientar sobre prática de exercícios físicos durante o tratamento de câncer
Na equipe multidisciplinar que acompanha o tratamento oncológico, os especialistas que podem orientar sobre a prática de exercícios físicos são o oncologista, o fisioterapeuta e o educador físico.
Mitos e verdades sobre prática de exercícios físicos durante o tratamento de câncer
Todos os exercícios físicos são bons para a saúde dos pacientes oncológicos
MITO. Exercícios de muito impacto e alta performance, como corridas competitivas e aparelhos de musculação com carga alta, prejudicam a saúde e são proibidos para pacientes oncológicos.
É bom o paciente oncológico fazer exercício físico quando estiver com náusea, para aliviá-la
MITO. O exercício físico pode aliviar as náuseas comuns no pós-quimioterapia, mas como efeito contínuo, não imediato. Durante uma crise de náusea, o melhor é dispensar a atividade temporariamente.
Mesmo quem nunca fez exercícios físicos pode aderir a eles durante o tratamento de câncer
VERDADE. Todo e qualquer paciente que esteja em condições de se movimentar e que seja orientado por médicos especializados pode e deve realizar exercícios físicos durante o tratamento contra o câncer, e assim melhorar a saúde e a qualidade de vida.
Quem já se exercitava antes do diagnóstico de câncer pode manter a rotina de atividades físicas inalterada
MITO. O passado é importante, mas os limites do corpo podem mudar por causa da doença e do tratamento. Avaliações físicas e clínicas devem ser feitas pelo médico especialista, de modo que o exercício físico não prejudique nem a saúde nem o tratamento do paciente.
Acrescentar pequenas atividades físicas ao dia a dia já é suficiente para auxiliar a saúde do paciente oncológico
VERDADE. Não precisa haver uma atividade atlética e sistemática para que o organismo sinta benefícios durante o tratamento contra o câncer. Movimentar o corpo diariamente, por mínimo que seja – pequenos afazeres domésticos ou mudanças na locomoção, por exemplo – já promove uma evolução na qualidade de vida.