Maior e mais importante congresso de Oncologia do Mundo trouxe estudos que apontam hábitos saudáveis como fatores de diminuição dos riscos de morte pela doença e destacou a relação médico-paciente como ferramenta decisiva para obtenção de respostas positivas ao tratamento
A edição 2019 do Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), evento de referência global em oncologia clínica – que ocorreu de 31 de maio a 4 de junho, em Chicago (EUA) –, trouxe a abordagem humana e os cuidados globais com a saúde do paciente à pauta central dos debates. Ao todo mais de 40 mil profissionais acompanharam uma série de apresentações, pesquisas inéditas e debates sobre as formas como especialistas de diferentes países podem transformar os principais avanços científicos e tecnológicos recentes em realidade para o tratamento dos pacientes com câncer.
Tendo como tema “Cuidando de cada paciente, aprendendo com cada paciente”, o Congresso teve como foco central das discussões a medicina humanizada como pilar essencial para garantir as melhores práticas terapêuticas. Para os 115 médicos do corpo clínico do Grupo Oncoclíncias que participaram do congresso, a mensagem do evento foi clara e unânime: o controle de sintomas e o uso de abordagens terapêuticas que prezam a qualidade de vida do paciente fazem diferença no combate ao câncer.
Esta foi a primeira vez que um evento de relevância mundial em oncologia conferiu protagonismo ao debate sobre os impactos reais do cuidado global com o indivíduo nos índices de respostas positivas às terapêuticas, ressaltando que é imprescindível valorizar a experiência do paciente de forma individualizada nas mais diferentes frentes.
Entre os estudos de maior impacto apresentados ao longo dos cinco dias de apresentações, mereceram destaque ainda análises que indicaram opções melhores e com menos efeitos colaterais para casos de tumores de pâncreas e próstata, acenando para mudanças nos protocolos de tratamento, inclusive em estágio mais avançado. Ao encontrar alternativas que oferecem ao paciente condições de combater o câncer de forma eficaz e, ainda, com redução dos impactos diretos ao seu bem-estar, o encontro ressaltou verdadeiros avanços à saúde desse indivíduo.
Painéis dedicados aos hábitos de vida
Esta foi a primeira vez que o congresso dedicou uma sessão de aulas educativas para reunir os especialistas com a finalidade de debater questões ligadas ao estilo de vida e seus impactos para o paciente com câncer. Nas mesas de debate, médicos e outros profissionais envolvidos em cuidados oncológicos apresentaram e discutiram as pesquisas consolidadas.
De acordo com o Dr. Daniel Gimenes, do Grupo Oncoclínicas em São Paulo, a ciência tem provado o que o médico já encontrava em seus casos diariamente. Ele afirma que a incorporação de atividades físicas na vida dos pacientes não só contribui para evitar o aparecimento de tumores, como também pode auxiliar na tolerância ao tratamento e, principalmente influenciando positivamente no aumento das chances de cura.
“Um estudo clínico recentemente apresentado comparou dois grupos de pacientes com câncer de mama que encerraram a quimioterapia. Um grupo foi submetido a um programa de atividade física periódico e orientação dietética por dois anos e o outro grupo não foi submetido a esse mesmo programa. A diferença de prognóstico entre as pessoas foi impressionante, onde o impacto das mudanças de hábito de vida proporcionou um aumento significativo nas chances de cura, ressalta o médico.
Câncer de canal anal e de colo uterino
Trabalhos apresentados no encontro em Chicago reforçaram também a importância da vacinação contra o HPV para prevenir tumores de canal anal e de colo uterino. No entanto, apesar dessa recomendação, no Brasil estima-se que apenas 48,7% de meninas de 9 a 14 anos, população-alvo recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), foi imunizada.
“Sabemos que a vacinação do HPV está incluída no calendário da saúde do país, mas temos percebido uma diminuição na procura da vacina. Isso não pode acontecer de jeito nenhum. Se a gente conseguir vacinar todas as meninas e os meninos abaixo de 13 anos, a diminuição dessas doenças será muito efetiva”, diz o oncologista Dr. Roberto Gil, do Grupo Oncoclínicas no Rio de Janeiro.
Câncer de pulmão
De acordo com a Dra. Tatiane Montella, médica do Grupo Oncoclínicas no Rio de Janeiro, entre todas as especialidades abordadas no encontro os painéis sobre câncer de pulmão apresentaram importantes novidades. “O que temos de perspectivas especificamente para o combate a esse tipo de tumor são a consolidação dos dados de estudos do congresso passado, aprimorando cada vez mais a qualidade de vida dos pacientes com essa doença. Além disso, nós temos grande expectativa com relação a estudos iniciais com novas drogas que podem trazer muitas vantagens futuras”, afirmou a Dra. Tatiane.
Câncer de próstata
Um dos principais estudos trazidos para a sessão Plenária, a mais aguardada pelos especialistas no evento, foi o ENZAMET randomizado fase III.
A pesquisa mostrou a efetividade de uma nova opção de bloqueador hormonal chamado enzalutamida, já disponível no Brasil, no aumento da sobrevida de pacientes diagnosticados com tumores metastáticos de próstata sensíveis a tratamento de bloqueio de testosterona. “No geral, houve uma redução de 33% no risco de morte em homens que receberam a medicação em comparação aos que tomaram outro antiandrógeno não esteróide. É um dado animador, que lança luz sobre uma nova e efetiva opção de tratamento para homens com este tipo de câncer”, explica o Dr. Paulo Lages, oncologista do Grupo Oncoclínicas em Brasília.
Mieloma múltiplo
Uma nova combinação de medicamentos apresentada no Encontro Anual do ASCO mostrou resposta positiva quando comparada apenas ao tratamento quimioterápico em pacientes com diagnóstico de mieloma múltiplo. É uma notícia muito importante para pessoas elegíveis para transplante de medula óssea, com resultados melhores e mais duradouros.
Câncer de pâncreas
O câncer de pâncreas decorrente de mutação nos genes BRCA 1 e 2 ganhou uma nova abordagem terapêutica. O estudo POLO, apresentado na sessão plenária apontou que um quinto (22%) dos pacientes que receberam o tratamento com olaparibe – medicação que atua na reparação do DNA – já tinham superado os dois anos de sobrevivência à doença sem progressão.
A pesquisa mostrou ainda que entre os pacientes que receberam a medicação, a doença ficou controlada por quase o dobro do tempo em comparação com os pacientes que receberam o placebo: 7,4 versus 3,8 meses.
Para o Dr. Elge Werneck, oncologista do Grupo Oncoclínicas em Curitiba, a descoberta representa um grande avanço para pacientes com tumores metastáticos de pâncreas que possuem esse tipo mutação genética hereditária – a mesma responsável por alguns tipos de câncer de mama, ovário e próstata.
“Pelo fato de ser de difícil detecção, o câncer de pâncreas é considerado um dos mais graves e apresenta alta taxa de mortalidade. Dentro deste cenário, estima-se que algo em torno de 7% dos pacientes possuem genes BRCA mutados. Essa nova perspectiva de tratamento é animadora e promove uma mudança no cenário metastático”, explica o médico. “Infelizmente a estratégia não se aplica a todos os pacientes; a mutação é fundamental para que os mesmos sejam beneficiados com essa nova opção”, explica o médico.
Câncer colorretal
Além de apresentar à comunidade científica novas drogas para combater com mais assertividade diferentes tipos de tumores, o encontro deste ano também foi responsável por revelar mudanças que alteram a prática clínica. Um exemplo disso foi a rediscussão de dados do estudo IDEA, que recomendou a redução pela metade no tempo de tratamento quimioterápico preventivo para pacientes com diagnóstico de câncer colorretal (estádio III) de baixo risco.
De acordo com a Dra. Aline Andrade, do Grupo Oncoclínicas em Belo Horizonte, até pouco tempo atrás o período considerado padrão para a aplicação de quimioterapia em pessoas operadas era de seis meses. “Isso deixava uma toxicidade significativa nos pacientes que implicava na qualidade de vida, gerando a chamada reuropatia, caracterizada por dor e dificuldades para a andar. Agora já há respaldo para que o tempo de tratamento seja reduzido para três meses no subgrupo de pacientes com risco baixo (T3 N1)”, comenta.
Segundo ela, outra novidade apresentada foi a sugestão para realização de um controle menos intensivo desses pacientes, o que significa realizar menos exames de imagens em pacientes assintomáticos. “A indicação é valorizar mais a consulta clínica, exames de sangue e os sintomas relatados pela pessoa e solicitar em casos selecionados nesse contexto”, explica a Dra. Aline.

115 médicos do corpo clínico do Grupo Oncoclínicas participaram do ASCO 2019
Estudo brasileiro em destaque
Um projeto desenvolvido na Oncoclínica Rio de Janeiro, do Grupo Oncoclínicas, apresentado no congresso provou a eficácia da abordagem humanizada como ferramenta estratégica para garantir a aderência dos pacientes ao tratamento. O resultado dessa experiência foi destaque na sessão de pôsteres do Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) 2019.
Segundo a Dra. Daniele Ferreira Neves, uma das autoras do artigo selecionado para apresentação durante o evento, o trabalho demonstrou a importância da linha de cuidado com as pacientes em tratamento para câncer de mama por meio de acompanhamento telefônico feito pela enfermeira da equipe.
“A partir do contato telefônico com mulheres em tratamento antes e depois da cirurgia, conseguimos detectar as toxicidades e efeitos colaterais mais intensos dessas pacientes antes do surgimento de adversidades mais graves. Dessa forma, conseguimos reduzir o tempo de atraso do tratamento”, comenta a Dra. Daniele.