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Câncer de mama: a jornada do diagnóstico à reabilitação

O câncer de mama é o tipo de câncer mais incidente entre as mulheres no Brasil, ficando atrás apenas dos tumores de pele não melanoma. Estima-se que, a cada ano do triênio 2023–2025, surjam mais de 73 mil novos casos no país, o que reforça a magnitude desse desafio de saúde pública¹. 

Além de ser o mais frequente, ele também representa a principal causa de morte por câncer em mulheres brasileiras, respondendo por cerca de 16,5% dos óbitos¹.

Mas falar em câncer de mama vai além de números. Cada diagnóstico carrega consigo uma jornada única, que não se limita aos protocolos médicos. Há impactos profundos no corpo, nas emoções, nas relações e na vida cotidiana. Enfrentar a doença significa lidar com decisões difíceis, redefinir prioridades e encontrar novas formas de se reconhecer no mundo após o tratamento.

Por isso, este artigo se propõe a olhar o câncer de mama em três dimensões que fazem parte da experiência de muitas mulheres:

  • Diagnóstico, marcado por dúvidas, escolhas e, muitas vezes, pela necessidade de recomeçar.
  • Tratamento, que avança cada vez mais com a medicina personalizada e novas terapias em estudo.
  • Reabilitação, um caminho de reconstrução que envolve corpo, mente e identidade.

A seguir, vamos aprofundar cada um desses pilares para compreender como ciência, cuidado e apoio emocional se unem na luta contra o câncer de mama.

Diagnósticos e decisões que transformam vidas

O impacto do diagnóstico: o início da jornada

É natural que surjam medo, frustração e muitas dúvidas. O tratamento traz mudanças importantes na rotina, exigindo adaptações no dia a dia, nas relações e até na forma de olhar para o futuro. Reconhecer esses sentimentos e buscar apoio são passos essenciais para atravessar esse momento com mais acolhimento e confiança.

Participar de fóruns de pacientes e acompanhar perfis médicos em redes sociais pode ser uma fonte valiosa de acolhimento e aprendizado, desde que os conteúdos tenham embasamento científico. 

É fundamental evitar pesquisas amplas em sites ou fontes não confiáveis, que muitas vezes geram desinformação e ansiedade. Cada caso é único, assim como cada organismo responde de maneira diferente. Por isso, manter um diálogo aberto e constante com a equipe médica é a melhor forma de esclarecer dúvidas e definir a conduta mais adequada.

 

Quando o câncer de mama volta: o impacto emocional da recidiva

Receber o diagnóstico de câncer de mama é, por si só, uma experiência transformadora. Para muitas mulheres, porém, o maior temor surge depois: a possibilidade de a doença retornar. 

É importante lembrar que, na maioria dos casos, isso não acontece – o câncer é tratado e alcança-se a cura. Mesmo quando há recidiva, ela pode se manifestar de formas diferentes, exigindo abordagens específicas para cada situação:

  • Recidiva local, quando o tumor reaparece na mesma mama ou na cicatriz da cirurgia.
  • Recidiva regional, quando atinge linfonodos próximos, como os da axila.
  • Recidiva à distância (metástase), quando células cancerígenas se espalham para outros órgãos, como ossos, pulmões ou fígado².

Cada tipo de recidiva exige condutas distintas. Enquanto casos locais e regionais podem ser tratados com nova cirurgia, radioterapia ou terapias combinadas, as metástases geralmente envolvem tratamentos sistêmicos, como quimioterapia, hormonioterapia ou terapias-alvo, que têm avançado e permitido maior controle da doença¹.

Além do aspecto médico, a recidiva impõe uma carga emocional significativa. Muitas pacientes relatam a sensação de ter de “recomeçar do zero”, como se todos os esforços anteriores tivessem sido anulados. Nesse contexto, apoio psicológico, redes de suporte e acompanhamento multiprofissional são fundamentais para enfrentar o impacto de um novo ciclo de tratamento. 

Técnicas emocionais e corporais, com o objetivo de proporcionar momentos de relaxamento e bem estar, a fim de reduzir a ansiedade e o estresse, seja este emocional, físico ou mental, funcionam³. Algumas estratégias podem ajudar:

  • Psicoterapia ou psico-oncologia: conversar com um profissional especializado pode aliviar a ansiedade e oferecer novas formas de enfrentar os desafios.
  • Grupos de apoio: dividir experiências com outras pessoas que estão vivendo algo parecido gera acolhimento e esperança.
    Práticas de bem-estar: atividades como meditação, yoga, respiração consciente ou caminhadas leves ajudam de verdade a reduzir o estresse.
  • Rede de apoio próxima: conversar com familiares e amigos, sem medo de pedir ajuda, diminui o peso da jornada.
  • Pequenas metas diárias: estabelecer objetivos simples, como retomar um hobby ou planejar momentos de lazer, traz de volta a sensação de controle sobre a própria vida.

 

Fertilidade durante o câncer de mama: decisões difíceis e novas possibilidades

Para mulheres em idade fértil, o diagnóstico do câncer de mama  vem acompanhado de mais uma camada de preocupação: o medo de perder a chance de engravidar no futuro. 

A quimioterapia e a hormonioterapia, fundamentais para combater grande parte dos cânceres de mama, podem comprometer a reserva ovariana e levar à infertilidade temporária ou permanente. O risco varia de acordo com o tipo de medicamento utilizado, a dose e a idade da paciente no momento do tratamento⁴.

Planejar a maternidade em meio a um diagnóstico de câncer de mama significa equilibrar urgência médica e projetos de vida. Muitas vezes, o tratamento precisa começar rapidamente, e nem sempre há tempo para longos protocolos de preservação de fertilidade. 

Mas, nos últimos anos, surgiram alternativas que permitem preservar o sonho da maternidade. Entre elas, estão a criopreservação de óvulos e embriões, considerada o método mais eficaz, e o uso de medicamentos que reduzem os impactos da quimioterapia nos ovários. Há ainda a possibilidade de recorrer a técnicas de reprodução assistida ou, em alguns casos, à doação de óvulos.

Estudos mais recentes indicam que é possível interromper a hormonioterapia adjuvante por um período para que a paciente possa engravidar, com segurança em muitos casos. Ainda assim, a decisão deve ser individualizada, sendo mais adequada para mulheres com menor risco de recidiva. 

Por isso, é fundamental discutir cuidadosamente essa possibilidade com o médico responsável pelo tratamento.

É um processo que não se limita a escolhas clínicas. Ele exige diálogo constante entre paciente e sua família, oncologista e especialistas em fertilidade, para que cada passo seja seguro do ponto de vista médico e respeite os desejos da mulher. 

 

Tratamento: da personalização às novas fronteiras da medicina

Medicina personalizada no câncer de mama: como a genética do tumor guia o tratamento

Cada câncer de mama é único, assim como cada mulher também é única. Duas mulheres podem receber o mesmo diagnóstico, mas a biologia do tumor delas pode ser completamente diferente. 

É nesse cenário que a medicina personalizada vem transformando a forma de tratar a doença. Em vez de protocolos iguais para todas, o tratamento passa a ser guiado pelas características moleculares de cada tumor.

Exames que identificam biomarcadores, como receptores hormonais (estrogênio e progesterona) e a superexpressão da proteína HER2, ajudam a prever como o tumor vai se comportar e quais medicamentos têm mais chance de funcionar. Além disso, os testes de assinatura genética analisam o perfil do DNA tumoral, permitindo avaliar o risco de recidiva e a necessidade – ou não – de tratamentos mais intensos, como a quimioterapia¹.

A partir desses dados, entram em cena as terapias-alvo, que agem diretamente nas alterações específicas das células tumorais. Diferentes da quimioterapia tradicional, que atinge também células saudáveis, esses medicamentos têm como objetivo aumentar a eficácia do tratamento e têm perfil de efeitos colaterais diferente. Isso significa não apenas melhores taxas de resposta, mas também mais qualidade de vida durante o processo.

Além disso, cada vez mais, torna-se muito importante uma avaliação oncogenética das pacientes com câncer. Isso é, avaliar o risco daquela paciente com o diagnóstico de câncer de mama ter uma variante patogênica em um gene importante para o desenvolvimento de câncer. 

A depender do resultado do teste (feito por sangue ou saliva), existem estratégias específicas e personalizadas para reduzir o risco de câncer futuro da paciente e de sua família.

A medicina personalizada mostra que o tratamento do câncer de mama não precisa ser uma receita pronta, mas um plano cuidadosamente desenhado para cada paciente. Ou seja, vai além de combater a doença abrindo espaço para que cada mulher seja tratada como indivíduo, com sua história, sua genética e suas escolhas.

 

Novas fronteiras no tratamento do câncer de mama: terapias em estudo e o que esperar

A trajetória do câncer de mama acompanha os avanços da ciência, que transformaram o medo em novas perspectivas de tratamento. Se há algumas décadas os tratamentos eram limitados e menos efetivos, hoje a ciência abre caminhos para abordagens cada vez mais inovadoras, capazes de oferecer mais eficácia e menos toxicidade.

Entre as áreas mais promissoras estão as imunoterapias, que estimulam o próprio sistema imunológico a reconhecer e combater as células tumorais. Outra inovação são os anticorpos conjugados a drogas (ADCs, na sigla em inglês), resultado de avançada engenharia molecular: eles permitem direcionar a medicação diretamente para a célula cancerígena, aumentando a eficácia do tratamento e reduzindo os efeitos colaterais.

Segundo artigo disponível no National Library of Medicine, vacinas terapêuticas contra o câncer de mama também estão em estudo, com o objetivo de treinar o organismo a atacar proteínas específicas presentes nos tumores. Além disso, novas formas de monitoramento para doença estão em desenvolvimento para identificarmos resistência aos medicamentos antes mesmo de uma repercussão clínica em imagens ou por sintomas.

Essas inovações ainda não fazem parte da rotina de todas as pacientes, mas apontam para um futuro em que o tratamento será cada vez mais direcionado, personalizado e com menos efeitos adversos. Esses avanços científicos mostram que cada célula tumoral pode ser um alvo em potencial, e que a chave para controlar a doença pode estar justamente em aprender a conversar com o sistema imunológico de forma inteligente.

Ou seja, são pesquisas que representam a ideia de que o câncer de mama pode ser enfrentado em várias frentes: ciência de ponta, tecnologia aplicada e cuidado humano. Para as pacientes, isso significa ter razões concretas para acreditar em um amanhã mais otimista.

 

Reabilitação e vida além do câncer

Vida depois da quimioterapia: como lidar com os efeitos a longo prazo

Concluir a quimioterapia é uma vitória que merece ser celebrada, ainda que o fim do tratamento não signifique o fim dos desafios. Sintomas como fadiga, lapsos de memória, alterações na saúde óssea e cardiovascular podem acompanhar a vida após o câncer.

Esses efeitos tardios exigem acompanhamento contínuo, com consultas regulares, exames de controle e ajustes no estilo de vida. Mas estratégias simples, como manter uma alimentação equilibrada, praticar atividade física leve e buscar apoio psicológico, podem fazer toda a diferença no bem-estar diário5. O mais importante é não encarar esses sintomas como fraquezas, mas como parte do processo de recuperação. E que, para cada um desses sintomas, há espaço para terapias de suporte.

 

Sexualidade e intimidade após o câncer de mama

O câncer de mama não afeta apenas o corpo: ele também pode transformar a forma como a mulher se vê e se relaciona. Alterações hormonais e físicas, como ressecamento vaginal, dor durante as relações ou queda no desejo sexual, são efeitos comuns após o tratamento6.

Retomar a vida sexual envolve mais do que soluções médicas. É um processo de reconstrução da confiança, que passa por diálogo aberto com o(a) parceiro(a), acolhimento das próprias inseguranças e, quando necessário, acompanhamento especializado. Mas psicólogos, fisioterapeutas pélvicos e médicos mastologistas e ginecologistas podem oferecer estratégias para minimizar sintomas e resgatar o prazer.

Sobretudo, é importante lembrar que sexualidade não se resume ao ato sexual. O toque, o afeto e a cumplicidade também são formas de intimidade que fortalecem vínculos. Recursos de apoio – como grupos de pacientes e materiais educativos – ajudam a mostrar que não se está sozinha nessa jornada e que é plenamente possível viver a sexualidade de maneira plena e saudável, mesmo após o câncer de mama6.

Saiba mais no episódio 29 do OC Cast sobre “Reabilitação pós-tratamento”.

 

Reconstruindo a identidade: quem sou eu depois do câncer de mama?

Encerrar o tratamento às vezes não significa voltar a ser a mesma pessoa de antes. Muitas mulheres relatam que o câncer de mama deixa marcas que vão além do corpo: mudanças na imagem corporal, impacto na vida profissional e transformações nas relações pessoais fazem parte desse novo capítulo. É natural se sentir diferente, e até mesmo questionar a própria identidade após a experiência.

Nesse processo, a rede de suporte (família, amigos, colegas de trabalho e grupos de pacientes) tem papel fundamental. O acolhimento reduz o sentimento de isolamento e ajuda a ressignificar a trajetória, mostrando que não é preciso enfrentar tudo sozinha. Com apoio e tempo, muitas mulheres descobrem novas formas de se reconhecer, reconstruindo a própria identidade de maneira mais forte e consciente.

 

Além do corpo: nutrição, atividade física e cuidados integrativos

Como podemos ver, a jornada contra o câncer de mama não termina com o fim do tratamento. Pelo contrário: ela se transforma em um caminho de reconstrução e ressignificação, em que novos hábitos ganham espaço para sustentar a saúde e a qualidade de vida.

Evidências mostram que alimentação equilibrada e atividade física regular ajudam a reduzir fadiga, melhorar o bem-estar emocional e até diminuir o risco de recidiva, tornando-se aliados indispensáveis na fase pós-tratamento1. 

Cada vez mais, nós, médicos, temos reforçado esse pilar como fundamental não apenas para reduzir o risco de recidiva, mas também para promover qualidade de vida. Além disso, ele traz benefícios a outros sistemas do organismo, como o cardiovascular, e contribui para um processo de envelhecimento mais saudável.

Da mesma forma, práticas seguras de cuidados integrativos, como meditação, yoga e terapias de relaxamento, podem oferecer suporte adicional, atuando no manejo do estresse e na recuperação da confiança no corpo6.

É claro que essas escolhas não substituem o acompanhamento médico, mas ampliam as possibilidades de cuidado, mostrando que viver depois do câncer é também uma oportunidade de adotar hábitos que fortalecem corpo e mente!

 

Ciência, cuidado e apoio: pilares para seguir em frente

A jornada do câncer de mama é múltipla, complexa e pode ter variações individuais. Não se limita ao tumor nem ao tratamento: ela atravessa o corpo, mexe com a mente, provoca emoções intensas, transforma relações e desafia a própria identidade e das pessoas ao seu redor. Cada fase, entre diagnóstico, terapias e reabilitação, traz consigo medos, escolhas difíceis e possibilidades de recomeço.

O avanço da ciência tem sido decisivo para oferecer diagnósticos mais precisos, terapias personalizadas e novas perspectivas de cuidado. Mas a rede de apoio, formada por familiares, amigos, profissionais de saúde e grupos de pacientes, é igualmente essencial para sustentar quem vive essa experiência, oferecendo acolhimento e força nos momentos mais difíceis.

Por fim, muito além de vencer o câncer, falamos de reconstruir a vida com novas perspectivas. Encontrar significado, redescobrir a si mesma e perceber que, mesmo em meio às marcas deixadas pela doença, é possível seguir em frente com apoio e confiança.

Conte com a equipe da Oncoclínicas&Co neste processo!

 

 

Fontes:

  1. INCA – Instituto Nacional do Câncer
  2. SBO – Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica
  3. Artigo do Dr. Antônio Frasson para a Revista Veja
  4. Revista Veja + Oya Care
  5. A.C.Camargo Cancer Center
  6. Sociedade Brasileira de Mastologia
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